Cultura

Palácio Anchieta recebe a exposição com trabalhos de 34 artistas capixabas

Postada em:

Na noite dessa quarta-feira (05), no Palácio Anchieta, no Centro de Vitória, aconteceu a abertura da exposição “Novos Viajantes”, que reúne obras em desenho, pintura e fotografia de 34 artistas do Espírito Santo. Realizada pelo Sesc, com apoio do Governo do Estado e da Federação do Comércio do Espírito Santo (Fecomércio), a mostra fica aberta à visitação gratuita até o dia 10 de setembro.

Leia também: Aracruz + Cidadania fez mais de 500 atendimentos na Praça da Paz

Acusada por morte do filho, Monique Medeiros volta à prisão

Operação ‘Tolerância Zero’ autua 461 condutores infratores na maior blitz do Estado

Além das mais de 115 obras à mostra, a área expositiva do Palácio Anchieta conta ainda com dois espaços especiais: a sala “Mata Atlântica”, representando a riqueza da floresta capixaba, e a sala “Aquarelas de Augusto Ruschi”, dedicada a uma exibição inédita dos trabalhos de ilustração do ecologista nascido no município de Santa Teresa.

“Nós sabemos da importância da Mata Atlântica e o quanto esse bioma foi muito agredido. Nesta reflexão que se faz sobre a sustentabilidade, o ponto principal é a preservação não só da Mata Atlântica, mas também da Caatinga, Cerrado e Pantanal. Precisamos voltar nossos olhos para todos esses biomas, pois são fundamentais para o equilíbrio ambiental no Brasil e no planeta como um todo”, afirmou o governador Renato Casagrande, que acompanhou a abertura da exposição ao lado da primeira-dama Maria Virginia.

Casagrande também falou sobre a necessidade de investir em inovação e educação, além de incentivar as atividades ligadas à arte e à cultura. “Temos um potencial cultural enorme. Encerramos recentemente uma grande exposição aqui no Palácio Anchieta e já estamos começando hoje uma nova. Temos de aproveitar o bom momento, com nossos editais a todo vapor, e incentivar cada vez mais para que possamos nos tornar uma referência importante”, acrescentou.

“Novos Viajantes” teve como ponto de partida o universo iconográfico de cientistas, naturalistas, botânicos, zoólogos e também artistas da Europa que aportaram no Brasil, entre os séculos XVI e XIX, com o intuito de explorar o recém-descoberto território. Suas pesquisas resultaram na elaboração de uma grande quantidade de diários, coleções de objetos, de espécies naturais e de obras de artes visuais – desenhos, pinturas, gravuras –, que constituem o que ficou designado como “arte dos viajantes”.

A partir desse legado artístico-científico, a mostra apresenta, com sua multiplicidade de expressões artísticas, um panorama da arte capixaba suscetível a reinterpretar, ressignificar e atualizar a produção dos viajantes europeus. Além disso, propõe uma reflexão sobre a importância da relação entre ciência e arte, contribuindo para a sensibilização do público quanto à importância da diversidade, da riqueza natural e da necessidade de conservação do meio ambiente.

Com base nesses objetivos, os artistas da exposição realizaram estudos históricos que serviram de subsídio aos seus trabalhos, que promovem um confronto entre os olhares, nas representações iconográficas: de um lado, a perspectiva dos artistas viajantes, que percorreram regiões do Brasil e as registraram com a visão européia; de outro, a dos artistas contemporâneos, que têm sua produção focada no momento histórico atual.

“Os trabalhos apresentados por estes artistas são um elo entre nosso presente e a história desses viajantes que chegaram ao Brasil e documentaram nosso país. Mais do que isso, a exposição é um convite para que possamos nos reconectar com a natureza a partir da beleza de cada obra que vamos conferir aqui no Palácio Anchieta”, comentou o secretário de Estado da Cultura, Fabricio Noronha.

Ele prosseguiu: “Gostaria de parabenizar também o professor Attilio Colnago [curador da exposição] pelo trabalho em seu atelier ao longo desses 22 anos. Fui seu aluno, quando passei pelo Centro de Artes da Ufes [Universidade Federal do Espírito Santo]. Tive o prazer de tê-lo como professor. A cultura capixaba só tem a agradecer pelo importante trabalho que ele vem realizado ao longo dessas décadas, contribuindo para a trajetória da arte no Espírito Santo.”

“A Mata Atlântica é o tema central desta exposição, que se configura como um caminho em busca da conscientização, para que cada um de nós – pessoas, instituições públicas e empresas – possa perceber o papel que tem a desempenhar para a conservação do meio ambiente. Ao contribuir com a arte para ampliar o olhar sobre a importância da natureza, podemos ser agentes de transformações significativas, contribuindo com a manutenção da beleza com que fomos agraciados por este planeta. Sobretudo neste momento histórico em que nosso meio ambiente vem sendo tão agredido”, afirmou o curador da exposição.

Colnago explicou que não se trata de uma visão de que a arte vai mudar o mundo, mas sim de sensibilizarmos e fazermos essa mensagem chegar às crianças e aos adolescentes que vierem visitar esta exposição. “Nós podemos fazer essa corrente de sensibilização e despertar em todos os novos viajantes um olhar mais voltado para o cuidado com o nosso planeta”, concluiu.

A exposição

Como exemplo da importância da documentação produzida pelos naturalistas está o material resultante da expedição realizada por Carl Friedrich Philipp von Martius e Johann Baptist von Spix, entre 1817 e 1820, quando, montados em mulas, percorreram mais de 10 mil quilômetros entre o Rio de Janeiro e o Amazonas.

Nessa viagem, propuseram a organização da vegetação brasileira em cinco biomas – cerrado, caatinga, Mata Atlântica, Floresta Amazônica e pampas –, conceito utilizado até hoje e, posteriormente, implementado com o pantanal. No Espírito Santo, foram de fundamental importância a passagem e a iconografia deixada pelos naturalistas Príncipe Maximilian zu Wied-Neuwied, com a publicação de “Viagem ao Brasil”, e Auguste de Saint-Hilaire, com “Viagem ao Espírito Santo e Rio Doce”, e pela Princesa Teresa da Baviera.

Em diálogo com esse contexto histórico, “Novos Viajantes” está representada, em sua maioria, por artistas que têm uma ligação com o atelier de Attilio Colnago, responsável pela curadoria da exposição. Com mais de duas décadas de atividade ininterrupta, o atelier promoveu, ao longo de sua trajetória, formação e criação artística, além de funcionar como espaço para encontros, construções de amizades e confraternizações.

A curadoria tem como objetivo promover a reflexão sobre a importância do legado dos naturalistas e artistas viajantes e da diversidade da fauna e flora locais. O papel da curadoria é o de mediar a relação entre história, natureza, arte contemporânea e o público que visita o espaço expositivo. A partir da aproximação com os diferentes elementos das obras – técnicos, poéticos e históricos –, pretende-se proporcionar ao espectador uma imersão nessa produção iconográfica.

Mata Atlântica

O que congrega os viajantes históricos e os novos viajantes é a Mata Atlântica, esse universo vasto em exemplares de fauna e flora que merece ser preservado. Não é sem razão que, em diferentes períodos, sempre exerceu fascínio entre cientistas e artistas, por sua exuberância e riqueza da sua biodiversidade.

Dessa forma, “Novos Viajantes” configura-se como uma contribuição para as ações ambientais, levando ao público imagens que provocam reflexão e prazer estético, propondo a necessidade de mudança de posturas e ações no intuito de contribuir de forma significativa na relação do homem com o meio em que vive.

Daí a necessidade de se reler a história dos antigos viajantes em busca de um novo olhar, uma nova abordagem para o uso do seu legado. A mostra evidencia, assim, a importância de assegurar a manutenção dos mais diversos biomas para o equilíbrio do planeta.