Meio Ambiente

A Semana do Meio Ambiente e a visão de um especialista

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Texto: Professor Valber Camporês

Biólogo e especialista em Gestão Ambiental 

 

Estamos finalizando mais uma primeira semana de junho e como já acontece desde o final do século passado, o tema meio ambiente compôs de forma mais intensa os noticiários. Penso que é chover no molhado escrever novamente que continuamos usando os recursos da Terra com pouca racionalidade e que tal atitude leva à escassez dos recursos, à contaminação da água, do solo, do ar, dos alimentos, ao desequilíbrio atmosférico, às mudanças climáticas, etc.

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Dessa vez, prefiro elencar dois destaques, um positivo e outro lamentável em pleno século XXI.  O primeiro, pude contemplar na semana passada quando percorrendo as ruas do centro de Aracruz- ES, observei que as calçadas do quarteirão que abriga a Igreja católica (Matriz) estavam sofrendo alteração do piso e as árvores que há décadas ali habitam continuavam no mesmo local. Ponto para a sensibilidade dos católicos daquela paróquia, ponto para quem mantém uma Pastoral Ecológica, ponto para quem antes de modificar o meio, reflete sobre como ficará o próprio meio após a intervenção. Ganharemos todos, os que contemplam a beleza das arbóreas, os que utilizam suas sombras durante o caminhar e também todos os seres que por lá passarão , uma vez que o microclima permanecerá agradável.


Chamo a atenção para o que poderia parecer óbvio, mas se dermos uma volta observaremos que as modificações nas calçadas têm servido de justificativa para a expulsão dos seres fotossintetizantes de grande porte do meio urbano de nossa cidade.
 

Um voto com louvor ao líder religioso Antônio Pandolffi, aliás, tal atitude sensata é o que sempre esperaremos de pessoa tão equilibrada que transpira respeito a tudo e a todos. 
 

A notícia ruim incomoda muito. Nas escolas, nós educadores costumamos ouvir que a escola é a cara do diretor. Penso que há muito de verdade nesta frase e na mesma linha de pensamento tenho me sentido muito preocupado com o que está ocorrendo no Ministério do Meio Ambiente. Obviamente que no campo profissional devemos fazer análises, e análises devem ser objetivas, livres de paixões, isentas de lados. E o que vem ocorrendo em Brasília merece dedicada análise. O Ministério que é o executor da Política Nacional de Meio Ambiente, parece que age em sentido contrário à proteção ambiental.  
 

Penso que o razoável é que um líder da pasta que cuida da qualidade do ambiente entenda de ecologia, de hidrologia, de urbanismo, de normas técnicas e legais, e o fato do anúncio do advogado como  ministro do Meio Ambiente trouxe certa preocupação, não por ser operador do Direito, mas pelas informações de que não conheceria, com a profundidade esperada, sobre as leis naturais que regem a vida. Claro que pode dar certo, um líder atento toma decisões ouvindo os componentes da
equipe que mais detêm conhecimento sobre o que se quer decidir. O problema é que parece que este tipo de atitude não tem ocorrido na supracitada pasta.          

 

O que temos percebido é, inacreditavelmente, uma agenda antiambiental, é o enfraquecimento dos órgão de controle ambiental. Parece que as ações são voltadas para desconstruir o que, desde os anos de 1980, a sociedade brasileira construiu (e costuma receber muitos elogios de outros países) para manter a qualidade ambiental em nosso território.               
 

E mantendo o padrão das atuais atitudes de desconstrução ambiental, fomos surpreendido às véspera do dia mundial do meio ambiente com a notícia de que o ministro de meio ambiente deliberou pelo esvaziamento do Conselho Nacional de Meio Ambiente - Conama -, órgão colegiado instituído em 1981 (no governo militar) para, democraticamente, definir os parâmetros ambientais, que são decisões técnicas que definem sobre o uso dos recursos naturais sem que ocorram alterações significativas na qualidade do meio.
 

Esvaziar o Conama é perigoso, é empobrecer o debate, é diminuir o conhecimento técnico antes da definição das normas ambientais, é alterar uma das mais eficazes ferramentas de gestão ambiental que construímos nas últimas décadas. É ação para sempre se lamentar.
 

Na tenebrosa conjuntura resta-nos torcer pela reavaliação das ações por parte dos líderes. O problema ambiental não é da Terra, é nosso, é problema do ser humano. O planeta seguirá sua jornada sem o Homo sapiens, nós, sem o equilíbrio ambiental talvez seguiremos o caminho dos dinossauros.
 

E com a finalização da semana do meio ambiente e consequentemente do esfriamento do debate ambiental, vou mesmo ficar na esperança, torcendo que o pessoal nomeado para o Ministério do Meio Ambiente receba a energia do pessoal da Pastoral Ambiental aqui da pequena Aracruz, de maneira que se livrem de todas as intenções de desconstruir um sistema que protege a vida, protege o humano, protege nossa continuidade.

Um bom final de semana ambiental aos coabitantes do planeta azul.