Geral

Deputado Otoni de Paula diz que jovens inocentes foram mortos em operação no Rio e denuncia ‘teatro"

Postada em:

 

“Eu sei que morreram meninos que nunca portaram fuzil, mas estão sendo contados no pacote como se fossem bandidos. E ninguém vai atrás para saber se eram ou não”, lamentou.

Durante pronunciamento na Câmara dos Deputados, o deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ) fez duras críticas à recente operação policial realizada no Rio de Janeiro, classificando a ação como um “teatro espetacular” promovido pelo governo estadual para criar a falsa impressão de que o problema da violência estaria sendo resolvido.

Em um discurso de tom emocionado, Otoni afirmou que o Estado tem adotado uma política de enfrentamento que “mata, mas não ocupa território”, e que as operações, apesar de letais, não produzem resultados duradouros.

“A polícia entra e sai. Ela não ocupa território. E isso não é culpa dos nossos policiais, que são vítimas dessa política de espetáculo do governo do Estado do Rio de Janeiro”, declarou o parlamentar.


“Quem morreu ontem foram os piabinhas”

Otoni de Paula destacou ainda a desproporção entre o número de mortos nas comunidades e as baixas sofridas pela polícia, afirmando que muitos dos jovens mortos podem não ser criminosos.

“Ou a polícia é muito competente para morrer quatro e do outro lado morrer mais de cem, ou o que está acontecendo é que quem morreu ontem foram os ‘piabinhas’, os adolescentes e os jovenzinhos que nem sabem portar fuzil”, disse.

O deputado afirmou que entre os mortos podem estar meninos sem envolvimento direto com o crime, mas que acabam sendo contabilizados como traficantes apenas por estarem na favela no momento da operação.

“Eu sei que morreram meninos que nunca portaram fuzil, mas estão sendo contados no pacote como se fossem bandidos. E ninguém vai atrás para saber se eram ou não”, lamentou.


Crítica à política de segurança e à desigualdade

Otoni de Paula também criticou a forma como o Estado direciona seu combate ao crime, afirmando que o dinheiro das organizações criminosas não está nas favelas, mas em setores de alto poder econômico.

“Quem controla o dinheiro do crime não é o favelado, não é o preto. É o branco de olho azul, com faculdade e empresa. O crime está lavando dinheiro em bancos, em combustíveis, em fintechs. Mas é mais fácil meter o pé na porta do favelado”, afirmou.

Para o parlamentar, enquanto a repressão continuar concentrada nas comunidades e não no poder financeiro por trás do tráfico, o ciclo de violência continuará se repetindo.


Discurso com tom pessoal e apelo social

Em um dos momentos mais emocionantes do discurso, Otoni fez referência à sua própria família e relatou o medo constante que sente por seu filho, negro, vivendo no Rio de Janeiro.

“Meu filho é preto. E ontem eu tive que dizer: ‘Vai para casa’. Eu ensino a ele que tem que andar bem vestido, porque se andar de chinelo, sem camisa, pode morrer antes que saibam que é filho de um deputado negro”, desabafou.

O deputado encerrou sua fala pedindo misericórdia pelas vítimas da violência e pelas comunidades, afirmando que a guerra ideológica e a espetacularização das operações policiais têm transformado o povo em “massa de manobra para político incompetente”.


Contexto

O discurso de Otoni de Paula ocorreu após uma operação policial no Rio de Janeiro que deixou mais de 100 mortos e quatro policiais mortos em serviço. A ação gerou grande repercussão nacional e internacional, reacendendo o debate sobre a política de segurança pública, o uso da força e o impacto das operações nas comunidades.