Política

Lula reage às ameaças de Trump e defende a soberania do Brasil em entrevista ao The New York Times

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"Seriedade não exige subserviência,” disse Lula.

 

Em sua primeira entrevista ao The New York Times em mais de uma década, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva criticou diretamente o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por ameaçar o Brasil com pesadas tarifas de importação e por tentar interferir em questões judiciais internas envolvendo Jair Bolsonaro.

“Tenham certeza de que estamos tratando isso com a máxima seriedade. Mas seriedade não exige subserviência,” disse Lula. “Trato a todos com muito respeito. Mas quero ser tratado com respeito.”

A entrevista foi uma resposta direta de Lula à ameaça recente de Trump de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros — uma medida que Trump vinculou à investigação criminal contra Bolsonaro, acusado de tentar permanecer no poder após a derrota nas eleições de 2022.

“Talvez ele não saiba que aqui no Brasil o Judiciário é independente,” afirmou Lula, reforçando que o Estado de Direito não está em negociação.

O presidente brasileiro deixou claro que o país não cederá à intimidação.
“Em nenhum momento o Brasil negociará como se fosse um país pequeno contra um país grande,” declarou.
“Conhecemos o poder econômico dos Estados Unidos, reconhecemos o poder militar dos Estados Unidos, reconhecemos a dimensão tecnológica dos Estados Unidos. Mas isso não nos deixa com medo. Nos deixa preocupados.”

Lula sinalizou que poderá aplicar tarifas de retaliação a produtos americanos, caso Trump cumpra as ameaças. Ele também afirmou que, se um ataque semelhante ao de 6 de janeiro de 2021 tivesse ocorrido no Brasil, Trump também estaria sendo processado, assim como Bolsonaro está agora.
“O Estado democrático de direito é sagrado para nós. Porque já vivemos ditaduras e não queremos mais.”

O presidente tem defendido a soberania nacional em diversos discursos recentes e adotou um novo lema em público: “O Brasil é dos brasileiros”, estampado em um boné que passou a usar.

As tarifas propostas por Trump — entre as mais altas já anunciadas por ele — parecem ter motivação política, com o objetivo de defender Bolsonaro. Em 2023, o comércio entre Brasil e Estados Unidos movimentou US$ 92 bilhões, com superávit de US$ 7,4 bilhões para os EUA. Ainda assim, em carta enviada a Lula em 9 de julho, Trump classificou o julgamento de Bolsonaro como “uma vergonha internacional” e comparou o caso com seus próprios processos: “Aconteceu comigo, vezes 10.”

A Casa Branca não respondeu aos pedidos de comentário.